Causas da Baixa Visão e Cegueira nas Diferentes Faixas Etárias – 109
F.7 – DEGENERAÇÃO MACULAR RELACIONADA À
Eduardo Buchele Rodrigues, Felipi Zambon, Michel Eid Farah e
Descrever a Causa da Baixa Visão/Cegueira
A degeneração macular relacionada à idade (DMRI) é uma doença ocular
importante que leva à perda da visão central, deixando apenas a visão peri-férica intacta.1,2 Há duas apresentações clínicas da DMRI, a seca e a úmida. Aforma seca (não neovascular ou não exsudativa) na fase inicial caracteriza-sepela presença de lesões crônicas abaixo do epitélio pigmentado retinianodenominadas drusas e mobilização do EPR, enquanto que em sua apresen-tação avançada pode evoluir para atrofia da retina na mácula. A forma úmi-da (neovascular ou exsudativa) caracteriza-se pela presença de neovascula-rização sub-retiniana com origem na coroide, que pode estar associada adescolamento de epitélio pigmentado da retina. Na forma úmida estão pre-sentes exsudatos lipídicos, hemorragia, proliferação fibrovascular, descola-mento do epitélio sensorial e edema da mácula. Embora ocorra em apenas10% dos portadores de DMRI, esta forma provoca uma perda de visão maisrápida e grave do que a forma seca. A DMRI é um distúrbio genuinamentebilateral. Tipo de Causa: Genética ou Adquirida
Fatores ambientais e genéticos podem estar envolvidos no desenvolvi-
mento da doença degenerativa. Um insulto oxidativo que resulta na mortede fotorreceptores da mácula pode ser a gênese central do processo dege-nerativo. No entanto, a patogênese exata da DMRI permanece obscura, e osfatores de risco não estão ainda completamente estabelecidos. Apesar dadoença estar principalmente relacionada ao envelhecimento, alguns fatoresassociados relativamente bem identificados até o presente são: sexo femini-no, cor de pele e olhos claros, hipertensão arterial sistêmica e antecedentede tabagismo. Outros fatores com relação menor ou discutível com a doen-ça incluem dieta pobre em antioxidantes e hipermetropia. Epidemiologia/Frequência
A DMRI ocorre em mais de 10% da população entre 65 e 74 anos e 25% da
população acima dos 74 anos de idade, sendo, segundo dados da OMS, aterceira maior causa de cegueira mundial e a principal causa de cegueira nos
110 – Saúde Ocular e Prevenção da Cegueira
países desenvolvidos, onde a catarata e o glaucoma são tratados em maiorescala. Em cerca de 10 a 20% dos pacientes com DMRI não neovascular, a doen-ça evolui para a forma neovascular. Em consequência, 1,75 milhão das 8 mi-lhões de pessoas com alterações maculares relacionadas à idade nos EUAtêm doença avançada manifestada como perda grave da visão. O estudo epi-demiológico denominado Framinghan Eye Study mostrou que 5,7% dos pa-cientes acima de 52 anos de idade apresentavam-se com diagnóstico deDMRI e que a incidência da doença aumentava com o avançar da idade, atin-gindo 28% em indivíduos com mais de 75 anos de idade. No Brasil, a preva-lência de DMRI na população acima de 55 anos de idade varia de 23 a 30%.3 Aincidência dessa doença vem aumentando nas últimas décadas, apesar deoutras doenças oculares como a catarata e glaucoma que atingem a mesmafaixa populacional terem apresentado redução da sua frequência. Como Detectar e Corrigir
Os sintomas mais comuns dos pacientes com a forma não neovascular da
DMRI são perda gradativa da acuidade visual central e metamorfopsia (distor-ção da imagem). No entanto, o quadro pode ser inicialmente assintomático,principalmente em pacientes com atrofia geográfica que não tenham a fóveaatingido. A membrana neovascular caracteriza-se geralmente por diminuiçãoda acuidade visual e de progressão mais rápida, podendo ser antecedida pormetamorfopsia. O diagnóstico é revelado pelo exame oftalmológico com of-talmoscopia indireta e biomicroscopia de fundo, exame de angiofluorescei-nografia e tomografia de coerência óptica (OCT). Angiografia fluoresceínica éum exame tradicional e eficiente para o diagnóstico, classificação e estadia-mento da doença. Neste exame as lesões podem ser hipofluorescentes comohemorragias ou pigmentos, assim como hiperfluorescentes nas drusas moles,descolamento do epitélio pigmentado da retina, ou neovascularização ativa. A angiografia também permite classificação das lesões e sua localização emrelação à fóvea. A tomografia de coerência óptica é um ótimo exame para oacompanhamento antes e após o tratamento das lesões neovasculares. Nestecaso alterações edematosas e exsudativas podem ser facilmente identificadasnas diferentes camadas. A OCT também permite diferenciação entre a formaexsudativa e a forma atrófica da DMRI.4
O tratamento da DMRI pode ser individualizado segundo suas formas
seca ou úmida. Até o momento, não há tratamento capaz de reverter os da-nos oculares causados pela forma seca da doença. Diversos estudos, no en-tanto, demonstraram a utilidade da suplementação vitamínica e da modifi-cação de alguns fatores de risco como formas de diminuir as chances deperda visual pela DMRI.
Causas da Baixa Visão e Cegueira nas Diferentes Faixas Etárias – 111
Quanto mais precocemente a DMRI exsudativa é detectada, maiores as
chances de recuperação visual. Assim, é importante o acompanhamento eorientação dos pacientes com DMRI, com reavaliações frequentes e monito-ração da visão de cada olho. Os tratamentos inicialmente realizados para aDMRI neovascular foram a fotocoagulação a laser e a terapia fotodinâmica,que usa laser associado à injeção por via endovenosa de uma substância fo-tosensibilizadora que se acumula nos neovasos, podendo ainda ser utiliza-da em conjunto com injeção intravítrea de triancinolona (terapia combina-da).5 A terapia fotodinâmica obtém resultados visuais melhores, mas o nú-mero de aplicações necessárias (em torno de 5 a 7 nos primeiros 5 anos) as-sociado ao alto custo de cada aplicação, tornou o tratamento inacessívelpara a maioria dos pacientes com DMRI úmida no Brasil.
Nos últimos anos, muitos avanços foram feitos no tratamento da DMRI
neovascular por meio do uso intravítreo das chamadas drogas antiangiogê-nicas, capazes de impedir o desenvolvimento dos neovasos e diminuir o ex-travasamento de substâncias. As principais drogas antiangiogências estuda-das até o momento são direcionadas ao Fator de Crescimento do EndotélioVascular (VEGF, na sigla em inglês): pegaptanibe, ranibizumabe, bevacizu-mabe.
O pegaptanibe (Macugen) e o ranibizumabe (Lucentis) são medicamen-
tos aprovados pela ANVISA para tratamento da DMRI. Apesar do ranibizu-mabe apresentar melhores resultados em estudos separados, faltam estu-dos que comparem a eficácia das duas drogas. Seguindo um esquema de tra-tamento baseado na acuidade visual, achados à tomografia de coerência óp-tica e biomicroscopia de fundo, a média de aplicações do ranibizumabe é de5,6 injeções ao ano (estudo Pronto).6
Apesar de não ser aprovada pelo FDA ou ANVISA para uso oftalmológico,
o bevacizumabe (Avastin) é o antiangiogênico mais utilizado no tratamentoda DMRI exsudativa no Brasil, tendo como principal vantagem o menor pre-ço por dose da medicação. Aprovado apenas para uso como adjunto no tra-tamento do câncer colorretal, o bevacizumabe carece de estudos controla-dos duplo-cegos, randomizados, prospectivos para determinação mais pre-cisa de sua eficiência e do regime de tratamento ideal na oftalmologia, comresultados iniciais animadores.
Outros tratamentos pesquisados para a DMRI exsudativa incluem a ter-
moterapia transpupilar e a cirurgia de translocação macular, ainda com be-nefício questionável, não sendo recomendados para tratamento inicial dadoença. A radioterapia epirretiniana7 e a fototrombose com indocianinaverde,8 ambos métodos elaborados e estudados por pesquisadores brasilei-
112 – Saúde Ocular e Prevenção da Cegueira
ros, têm resultados iniciais promissores. A combinação dos diversos recur-sos terapêuticos também é objeto de intensa pesquisa, podendo otimizaros resultados do tratamento nos próximos anos. Como Evitar a Ocorrência
O fumo é fator de risco bem estabelecido para DMRI, promovendo lesão
em diversos tecidos oculares. O risco de desenvolver DMRI nas formas secaou exsudativa é aumentado pelo cigarro, e é proporcional à quantidade decigarros fumados. No total, cerca de 27% dos casos de DMRI podem ser atri-buídos ao tabagismo!9 A obesidade é outro fator associado à DMRI. A perdade peso em pacientes obesos de meia-idade reduz a chance de desenvolverDMRI em 29% em 6 anos.10 Outros fatores modificáveis são: consumoexcessivo de álcool e diabetes melito.
A suplementação alimentar com vitaminas e antioxidantes foi estudada
como maneira de controle ou prevenção da DMRI no estudo AREDS (Age-Re-lated Eye Disease Study), que acompanhou 3.640 pacientes com DMRI e avali-ou o efeito do uso diário de complementação com vitaminas C, E, betacaro-teno, zinco e óxido de cobre na evolução da DMRI (Tabela I). O resultado doestudo foi uma redução de 27% em 6 anos na chance de perda visual porDMRI nos pacientes que tinham formas intermediárias ou avançadas da doen-ça. É importante prestar atenção na dosagem recomendada pelo AREDS,uma vez que a maioria das preparações comerciais contém doses menoresque as estudas. Em uma pesquisa feita com pacientes fazendo uso de vitami-nas e antioxidantes, apenas 1% dos pacientes estavam tomando a dosecorreta. TABELA I – Vitaminas e antioxidantes do estudo AREDS Complemento Dose do AREDS
*Não deve ser utilizado para pacientes com chance aumentada de câncar pulmonar (p. ex.,tabagistas/ex-tabagistas)
Outros componentes alimentares com provável papel na prevenção da
DMRI são os carotenoides maculares luteína e zeaxantina, disponíveis em
Causas da Baixa Visão e Cegueira nas Diferentes Faixas Etárias – 113
formulações comerciais e encontrados em grandes quantidades na gema deovo, no milho e em vegetais escuros, e os ácidos graxos ômega-3 e ôme-ga-6, associados a menor chance de desenvolver DMRI avançada. Recuperação Visual
A DMRI afeta predominantemente pessoas com idade avançada, que
após uma vida de trabalho, são afligidos com a perda visual incapacitante. Pacientes com DMRI e baixa visual são mais propensos a ter limitação cogni-tiva, além de apresentar ansiedade, depressão, estresse emocional e redu-ção na qualidade de vida.1
Nesse contexto, o suporte psicológico e o uso de recursos de visão sub-
normal são muito úteis, permitindo a muitos voltar a ler, reconhecer pessoas,exercer atividades diárias e retomar sua independência mesmo que relativa. A adaptação e ensino do paciente no uso de auxílios ópticos e não ópticos,como lupas, lentes filtrantes, circuitos de vídeo, assessórios eletrônicos e am-biente com iluminação, assim como a participação em grupos de psicoterapiaou terapia ocupacional, promovem ganho de qualidade de visão e de vida.11
Referências Bibliográficas
1. Marback RF, Maia OO Jr, Morais FB, Takahashi WY. Quality of life in patients with age-rela-
ted macular degeneration with monocular and binocular legal blindness. Clinics. 2007;62:573-8.
2. Rodrigues EB, Rossi EE, Grumann Junior A, Meyer CH, Ho AC. Treatment of neovascular
age-related macular degeneration with antiangiogenic drugs. Arq Bras Oftalmol. 2006;69:756-65.
3. Santos LP, Diniz JR, Leão AC, Sena MF. Age-related macular degeneration: analysis in two
ophthalmological centers in Pernambuco-Brazil. Arq Bras Oftalmol, 2005; 68(2):229-33.
4. Farah ME, Oshima A, Costa RA, Sallum JF. Degeneração macular relacionada à idade: moda-
lidades terapêuticas. Arq Bras Oftalmol. 2001;64:583-8.
5. Chaudhary V, Mao A, Hooper PL, Sheidow TG. Triamcinolone acetonide as adjunctive treat-
ment to verteporfin in neovascular age-related macular degeneration: a prospective ran-domized trial. Ophthalmol. 2007;114(12):2183-9.
6. Fung AE, Lalwani GA, Rosenfeld PJ, Dubovy SR, Michels S, Feuer WJ et al. An optical coheren-
ce tomography-guided, variable dosing regimen with intravitreal ranibizumab (Lucentis)for neovascular age-related macular degeneration. Am J Ophthalmol. 2007;143(4):566-83.
7. Avila MP, Farah ME, Santos A, Kapran Z, Duprat JP, Woodward BW et al. Twelve-Remonth sa-
fety and visual acuity results from a feasibility study of intraocular, epiretinal radiationtherapy for the treatment of subfoveal CNV secondary to AMD. Retina. 2009;29(2):157-69.
8 - Costa RA, Farah ME, Cardillo Ja, Belfort R Jr. Photodynamic therapy with indocyanine green
for occult subfoveal choroidal neovascularization caused by age-related macular degene-ration. Curr Eye Res. 2001;23(4):271-5.
9. Chakravarthy U, Augood C, Bentham GC, de Jong PT, Rahu M, Seland J et al. Cigarette smo-
king and age-related macular degeneration in the EUREYE Study. Ophthalmol. 2007;114(6):1157-63.
114 – Saúde Ocular e Prevenção da Cegueira
10. Peeters A, Magliano DJ, Stevens J, Duncan BB, Klein R, Wong TY. Changes in abdominal obe-
sity and age-related macular degeneration: the Atherosclerosis Risk in Communities Study. Arch Ophthalmol. 2008;126(11):1554-60.
11. Hooper P, Jutai JW, Strong G, Russell-Minda E. Age-related macular degeneration and
low-vision rehabilitation: a systematic review. Can J Ophthalmol. 2008;43(2):180-7.
Psychological Problems Among Immigrants Sajjan Singh Bajwa, Ph.D. * * Formerly Professor, Khalsa College Amritsar and Asst. Professor, University of Southern California : 1461 W. Nancy Lane, Porterville. CA 93257. (USA) Thoughts give rise to desires, desires shape actions, actions become habits, and habits make character. All desires may or may not be fulfilled. The satisfied desires