Reabilitação neuropsicológica de adolescentes com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH): Revisão da literatura Gisele Cortoni Calia1, Eliane Correa Miotto2, Mara Cristina Souza de Lúcia3, Milberto Scaff4 Resumo O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é considerado um dos transtornos mais comuns do desenvolvimento cognitivo/comportamental da infância, podendo se estender, embora com menor freqüência, à fase adolescente e adulta. Objetivo: Realizar revisão literária sobre os estudos científicos publicados entre 2005 e 2010 que tratam de reabilitação neuropsicológica de adolescentes com TDAH. Métodos: Foram selecionadas publicações de qualidade de evidência Classe I das bases de dados PubMed e MedLine. Resultados: Quatro dentre os 30 artigos encontrados foram selecionados por incluírem adolescentes entre os participantes, serem estudos randomizados e descreverem métodos de reabilitação neuropsicológica de TDAH. Conclusões: São poucas as pesquisas existentes que se dediquem ao estudo da reabilitação neuropsicológica de adolescentes com TDAH. Os estudos escolhidos apresentaram métodos muito diversos entre si (treinos de atenção, treinamento por neurofeedback, intervenções psicossociais). Todos descreveram resultados positivos na diminuição dos sintomas de TDAH, embora estudos mais detalhados sejam necessários. Palavras-chave: transtorno do déficit de atenção; reabilitação neuropsicológica; treino de atenção; adolescente Neuropsychological rehabilitation of adolescents with Attention-Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD): a review of the literature Abstract Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) is considered one of the most common disorders of cognitive / behavioral development of childhood and may be reached, albeit with less frequency, the phases of adolescence and adulthood. Objective: A review of the literature on scientific studies published between 2005 and 2010 on neuropsychological rehabilitation of adolescents with ADHD. Methods: Publications with quality of evidence Class I were selected from databases MedLine and PubMed. Results: Four of 30 articles founded were selected for include adolescents among the participants, for being randomized studies and describe methods of neuropsychological rehabilitation of ADHD. Conclusions: There are very few researches devoted to the study of neuropsychological rehabilitation of adolescents with ADHD. The studies selected describe widely different methods (attention training, neurofeedback training, psychosocial interventions). All of them reported positive results in reducing symptoms of ADHD, but further studies are needed. Keywords: attention deficit hyperactivity disorder; neuropsychological rehabilitation; attention training; adolescent _____________________________________________________________________
1 Aluna(o) do curso de Especialização em Reabilitação Neuropsicológica – CEPSIC 2 Diretora Técnica da Divisão de Psicologia do ICHC-FMUSP. 3 Diretora da Divisão de Psicologia do ICHC-FMUSP. 4 Professor Titular do Departamento de Neurologia da FMUSP. Correspondência para: Gisele Cortoni Calia Rua Manoel da Nóbrega, 405 aptº 91 – Paraiso – Cep: 04001-082 – São Paulo – SP E-mail:
O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é considerado um
dos transtornos mais comuns do desenvolvimento cognitivo/comportamental da
infância, (American Psychiatric Association, 2000) mas não é restrito às crianças:
também pode se estender à fase da adolescência e fase adulta (Barkley, 1998).
Embora não haja tanta informação sobre a incidência de TDAH em adolescentes
e adultos quanto há sobre a incidência em crianças – entre 3% e 7% segundo a
American Psychiatric Association (2000) - estima-se que os sintomas do transtorno
também afetem entre 2% e 5% da população adolescente (Weyandt, L. L. & DuPaul, G.,
2006) e entre 4% e 5% da população adulta (Davidson, M. A., 2008).
Os sintomas centrais do TDAH são: níveis inadequados de desatenção,
impulsividade e hiperatividade, resultando em déficits no funcionamento social,
acadêmico e ocupacional dos indivíduos. É considerado um transtorno crônico e seu
tratamento é fortemente baseado em intervenções farmacológicas (estimulantes)
Segundo Dopheide, J. A. (2009), os medicamentos desempenham um papel
fundamental no manejo dos sintomas do TDAH, apesar da existência de métodos de
intervenções comportamentais e psicossociais eficazes. Os psicoestimulates são os
medicamentos mais comumente prescritos para pacientes com TDAH.
Embora o tratamento farmacológico surta efeito para aproximadamente 80% dos
indivíduos com TDAH medicados (Faraone, S. V., Biederman, J., Spencer, T. J., &
Aleardi, M., 2006), os efeitos colaterais que o uso de estimulantes acarretam justificam
a necessidade de mais pesquisas sobre métodos não-farmacológicos de controle do
Além disso, apesar do impacto positivo dos medicamentos nos sintomas centrais
do TDAH, como desatenção e impulsividade, por exemplo, não há evidências
suficientes de que esses medicamentos consigam melhorar os relacionamentos
estabelecidos com os pares ou com a família (Antshel, K. M., & Barkley, R., 2008), que
são dificuldades frequentes entre os indivíduos com TDAH.
Para Antshel et al. (2008), os métodos de reabilitação neuropsicológica para o
manejo de TDAH podem ser agrupados em três categorias: 1- treinos cognitivos; 2-
estudos com treinamento por Neurofeedback; 3- intervenções psicossociais.
Os treinos cognitivos para TDAH focam principalmente a função da atenção e
podem aparecer associados ou não ao uso de medicação específica para manejo de
TDAH. Segundo Antshel et al. (2008), os treinamentos por neurofeedback como forma
de tratamento do TDAH, assim como, a estimulação vestibular, as técnicas de
relaxamento, os exercícios de integração sensorial, dentre ouros métodos de manejo do
TDAH, ainda carecem de estudos mais controlados para provar sua eficácia.
Dentre os métodos de intervenção psicossocial existentes, o método de
tratamento multimodal do Instituo Nacional Americano de Saúde Mental (MTA) é o
que tem encontrado melhores resultados no manejo do TDAH (Molina, B. S. et al.,
2009). Os métodos de intervenção psicossocial incluem além de técnicas de treino
cognitivo, técnicas comportamentais de modificação de comportamento, para os
indivíduos com TDAH e para seus pais e professores, visando o controle dos sintomas
sociais do TDAH. Podem incluir também o uso de medicação controlada.
Este artigo faz um recorte no conjunto de conhecimentos acumulados sobre o
TDAH a partir de uma seleção de estudos científicos da literatura sobre os tratamentos
de reabilitação neuropsicológica existentes para adolescentes com TDAH.
Foram selecionados artigos relacionados às categorias referidas anteriormente,
As principais bases de dados utilizadas para o levantamento na literatura
científica de artigos sobre reabilitação neuropsicológica em adolescentes com transtorno
do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) foram PubMed e MedLine, incluindo
Os termos em inglês Adolescence; Adolescents; Cognitive functioning;
Cognitive functions; Cognitive rehabilitation; Neurocognition; Neuropsychological
rehabilitation; Memory training; Attention training; Attention rehabilitation; Attention
deficit hyperactivity disorder (ADHD) foram utilizados, isoladamente ou em
associação, como principais descritores.
As publicações selecionadas restringiram-se às de Classe I – estudos que
utilizam grupos randomizados e grupos de controle. Publicações de Classe II – estudos
com grupos não randomizados e sem grupos de controle e Classe III – estudos de caso
não foram incluídos. De acordo com as normas da Academia Americana de Neurologia,
“Estudos de Classe I tem menor risco de viés estatístico dos que os da Classe II ou III.”
Dentre os 30 artigos encontrados, quatro foram selecionados e estão
Tamm et al. (2008) descrevem um estudo que utilizou a técnica Pay Attention!
de treino de atenção. Participaram da pesquisa 23 crianças e adolescentes entre 8 e 14
anos (M=9,9; dp = 2,1) com diagnóstico de TDAH (11 do tipo combinado, 11 do tipo
desatento e 1 sem especificação). Todos eram caucasianos, com quoficiente intelectual
(QI) maior ou igual a 85. 16 participantes estavam tomando medicação para TDAH e
permaneceram com a mesma medicação durante toda a pesquisa. Após entrevistas
iniciais e avaliações neuropsicológicas, os participantes se submeteram a duas sessões
semanais, de 30 minutos cada, da técnica Pay Attention! durante 8 semanas
consecutivas. Os materiais do Pay Attention! são destinados para treinar a atenção
sustentada, seletiva, alternada e dividida, usando estímulos visuais (cartões com
diferentes tipos de figuras humanas organizadas em famílias e com diferentes plantas de
casas) e estímulos auditivos (CDs com listas de palavras). Nos cartões, há caracteres
individuais que distinguem as pessoas pela idade (crianças, pais, avós), sexo, cor do
cabelo (por exemplo, loiro, castanho, preto) e vestuário (por exemplo, usando um
chapéu ou não, usando óculos ou não). Os conjuntos de estímulos são construídos sobre
a premissa da existência de várias famílias, cada uma nomeada por uma cor (por
exemplo, as famílias azul, verde e preto) e cada família também tem uma grande
imagem plastificada do layout da sua casa, mostrando diferentes salas com objetos. As
atividades consistem em relacionar e classificar os estímulos. Por exemplo: os
participantes devem completar tarefas como: “o mais rapidamente possível, classificar
os cartões de modo que todas as famílias estejam em pilhas diferentes". Com o
progresso, as tarefas tornam-se mais difíceis e podem incluir condições tais como: "o
mais rapidamente possível, classificar as cartas em pilhas de meninos versus meninas, e
colocar todas as cartas que tenham alguém vestindo um chapéu, de cabeça para baixo".
As tarefas auditivas são apresentadas em CD e começam com tarefas simples, como
pressionar uma campainha quando uma palavra específica for ouvida. Estas tarefas
tornam-se progressivamente mais difíceis (por exemplo, "pressionar a buzina sempre
que ouvir o nome de algo que pode ser visto no céu "). O ritmo das tarefas também
torna-se mais rápido e as tarefas podem incluir sons distratores de fundo. Ou, os
participantes podem ser convidados a realizar duas tarefas simultaneamente. Cada
participante iniciou o tratamento com uma sessão de determinação de sua linha de base
e recebeu orientações sobre o material. Em seguida, os participantes prosseguiram pelos
quatro módulos do treino (um para cada tipo de atenção – sustentada, seletiva, alternada
e dividida), começando pelas tarefas mais simples, de atenção sustentada. Nem todos os
participantes completaram todos os módulos, embora a grande maioria (n = 15) tenha
conseguido completar pelo menos os módulos de atenção sustentada e seletiva. Os
participantes recebiam feedback imediato sobre seu desempenho e os aplicadores
usavam um tempo de cada sessão discutindo com o participante como cada habilidade
poderia ser aplicada em casa ou na escola. Dos 23 participantes iniciais, 19 concluíram
o estudo e participaram da avaliação de resultados. As medidas de avaliação incluíram
escalas (1- SNAP - Swanson, Nolan, & Pelham; Escala de TDAH do DSM-IV;
Swanson, 1992 - preenchida por médicos, pais e professores; 2- BRIEF - Behavior
Rating Inventory of Executive Function; Gioia, Isquith, Guy & Kenworthy, 2000 -
preenchida por pais e professores; 3- Consumer Satisfaction Rating Scale; escala do tipo
Likert (com 7 pontos; 4 neutros) criada pelos pesquisadores – preenchida por pais e
professores; 4- CGI - Clinical Global Impressions; Leon, Shear, Klerman & al, 1993 -
preenchida pelos médicos com o grau de severidade do TDAH em uma escala de 7
pontos, variando de não-acometido a severamente acometido) e resultados de
desempenho das crianças nos instrumentos neuropsicológicos aplicados (1- WISC-IV -
Wechsler Intelligence Scale for Children-Fourth Edition; Wechsler, 2004; 2- WJ-III –
Woodcock-Johnson Tests of Achievement-Third Edition; Woodcock, McGrew &
Mather, 2001; 3- D-KEFS - Delis-Kaplan Executive Functioning System; Delis, Kaplan
& Kramer, 2001). Pais e médicos relataram através das escalas utilizadas diminuição
significativa de sintomas de TDAH logo após do tratamento e relataram que esses
ganhos se mantiveram por pelo menos 9 meses após o tratamento. Os resultados dos
testes neuropsicológicos apontaram efeitos positivos significativos do tratamento Pay
Attention! principalmente nas seguintes funções: inteligência fluída, flexibilidade
cognitiva e memória operacional. Não foram observados efeitos significativos do
tratamento em funções de compreensão e resolução de problemas visuo-espaciais.
Leins et al. (2007) realizaram um estudo comparando as técnicas de treinamento
por neurofeedback de freqüências Theta-Beta e treino de potenciais corticais lentos
(SCPs -slow cortical potencials) no tratamento de crianças e adolescentes com TDAH
procurando responder a três questões: 1- se os pacientes eram capazes de aprender auto-
regulação cortical, 2- se o tratamento conseguiria promover aprimoramento cognitivo e
comportamental e 3- se os dois grupos experimentais apresentariam variação em relação
aos resultados cognitivos e comportamentais ao fim dos tratamentos. Cada grupo era
composto de 19 crianças e adolescentes com TDAH dos tipos desatento, hiperativo ou
combinado, segundo os critérios do DSM-IV e idades entre 8 e 13 anos. Todos tinham
QI maior que 80 e nenhuma desordem neurológica ou psiquiátrica associada. A
distribuição dos participantes nos grupos foi realizada de forma cega. Os instrumentos
de medida de diagnóstico e de avaliação final foram os seguintes: 1-Questionário semi-
estruturado para avaliar o histórico do desenvolvimento e da saúde da criança; 2-
Questionários para pais para avaliar TDAH segundo os critérios do DSM-IV; 3-Eyberg
Child Behavior Inventory; Eyberg & Pincus, 1999 - mede a freqüência de problemas em
casa em uma escala de avaliação de 7 pontos (1 = nunca, 7 = muito frequentemente) e o
impacto desses problemas em uma escala dicotômica (sim x não); 4-Tradução alemã da
Escala de Conners ; Conners, 1997 - os pais avaliaram aspectos do comportamento de
seu filho (por exemplo, afeto, agressividade, hiperatividade), durante três dias em uma
escala de 3 pontos (0 = nunca, 3 = muitas vezes); 5-Questionário para avaliar estilos
parentais, versão alemã; Miller, 2000; 6-Escala de 7 pontos (0-6) para avaliar a
satisfação dos pais com a terapia - medidas registradas de forma anônima; 7-Escala de 7
pontos (0-6) para avaliar as expectativas dos pais em relação à terapia - medidas
registradas de forma anônima; 8- Questionários para professores para avaliar TDAH
segundo os critérios do DSM-IV; 9-Testbatterie zur Aufmerksamkeitsprüfung, versão
1.7; Zimmermann & Fimm, 1997 - uma bateria de testes computadorizados que medem
vários aspectos de atenção; 10- Wechsler Intelligence Scale for Children: Hamburg -
Wechsler Intelligenztest für Kinder e 11- HAWIK-III; Tewes, Rossmann &
Schallberger,1999). O tratamento consistiu de três fases de 10 sessões cada. O
treinamento foi introduzido como um jogo de computador no qual se pode ganhar
pontos usando o próprio cérebro. Os participantes foram aconselhados a ficarem atentos
aos comentários de feedback e a encontrar a melhor estratégia mental para conseguir
tantos pontos quanto possível. Nenhuma instrução específica foi dada. Os participantes
só foram informados de que o objetivo do treinamento era "acelerar" o seu cérebro a fim
de melhorar algumas habilidades, tais como concentração, que são necessárias para
fazer sua lição de casa ou seus exames. Os participantes viam um retângulo na parte
superior e um na parte inferior da tela de um notebook. Dependendo de qual dos dois
retângulos aparecesse em destaque, ao participante era solicitado "ativar"ou "desativar "
o cérebro. Participantes do grupo de treinamento SCP foram treinados para produzir
ciclos SCP positivos e negativos. Os participantes do grupo Theta/Bheta foram
treinados a suprimir as ondas Theta (4-8 Hz) e a aumentar as ondas Beta (12-20 Hz). O
feedback sobre suas atividades do cérebro era dado por uma bola amarela que se movia
na tela do computador. Os testes bem-sucedidos foram recompensados por um rosto
sorridente que aparecia ao final de cada tentativa e as tentativas sem êxito foram
indicadas por uma tela preta. O programa de feedback foi controlado por um
computador que estava ligado a um aparleho de eletroencefalograma (EEG). Os dados
do EEG foram analisados para determinar (a) se os participantes de ambos os grupos
eram capazes de diferenciar entre as tarefas de ativação e desativação do cérebro no
início e no final do tratamento (b) se as tarefas de diferenciar entre ativação e
desativação alteravam-se durante tratamento e (c) se o poder das amplitudes do SCP e
das proporções entreTheta/Beta mudava nas tarefas de ativação e desativação durante o
tratamento. Todos os pacientes receberam feedback auditivo adicionais. Depois de cada
sessão, o número total de faces sorridentes foi trocado por fichas e essas fichas trocadas
por presentes (por exemplo, livros ou brinquedos). Ensaios e exercícios de transferência
para a vida diária foram incluídos nos tratamentos. Ao final, os participantes de ambos
os grupos foram capazes de regular intencionalmente a atividade cortical e apresentaram
Antshel et al. (2008) descrevem diversos estudos de tratamentos de TDAH.
Dentre os tratamentos do tipo psicossociais que se mostraram eficazes no manejo do
TDAH, descrevem mais detalhadamente o estudo com o tratamento multimodal do
Instituto Nacional de Saúde Mental (National Institute of Mental Health Multimodal
Treatment - MTA). Esse estudo foi elaborado para fornecer informações mais completas
sobre a eficácia a longo prazo das intervenções em TDAH, em separado ou combinadas,
nas múltiplas áreas funcionais nas quais o TDAH tem impacto. Nesse estudo os
participantes tinham o tipo combinado de TDAH nos graus de um a quatro e foram
divididos aleatoriamente em quatro grupos: 1- tratamento apenas medicamentoso; 2-
tratamento apenas por modificação de comportamento; 3- tratamento com combinação
de medicamentos e modificação de comportamento; 4- grupo controle. A amostra total
incluiu 579 jovens. Todos os grupos apresentaram redução dos sintomas após 14 meses
de tratamento. Os resultados dos tratamentos medicamentosos (isolados ou combinados
com modificação de comportamento) se mostraram superiores aos resultados dos
grupos de tratamento apenas por modificação do comportamento e aos do grupo
controle. Os tratamentos por modificação do comportamento e o grupo controle
apresentaram resultados estatisticamente equivalentes. Da mesma forma, os grupos que
utilizaram apenas medicamentos ou tratamento combinado (medicamento/modificação
comportamental) não apresentaram diferenças significativas nos seus resultados. Outros
tratamentos psicossociais descritos no artigo são o treinamento de manejo
comportamental para pais (Programa de Barkley dos 10 passos), o treinamento de
manejo de comportamento na sala de aula para professores e o programa de verão de
Pelham, que é composto por: 1- treino de pais no manejo do comportamento dos filhos;
2- implementação de técnicas de modificação de comportamento em classe; 3- prática
de habilidades acadêmicas e esportivas; 4- treino de habilidades sociais e 5- medicação
estimulante. Os autores referem pouca eficácia no tratamento do TDAH em jovens
através de outras técnicas tais como: terapia cognitivo-comportamental (melhor em
adolescentes que em crianças); treino de habilidades sociais (pouca ou nenhuma
melhora significativa); tratamentos alternativos (estimulação vestibular; treinamento por
biofeedback e relaxamento; biofeedback por EEG; exercícios de integração sensorial) e
psicoterapia (poucas evidências de melhora no TDAH).
White et al. (2006) realizaram um estudo para avaliar 1- o quanto a atenção
alternada encontra-se prejudicada em jovens adultos com TDAH, 2- se essa habilidade
pode ser treinada e 3- o grau de generalização desse treino para outras tarefas que
utilizem atenção alternada. Foram 34 participantes selecionados entre os alunos de
graduação da Universidade de Memphis. Os participantes do grupo de TDAH (n = 16)
foram diagnosticados com TDAH do tipo combinado por um médico externo segundo
os critérios do DSM-IV. Além de um questionário de auto-preenchimento para sintomas
de TDAH (Current Symptoms Scale and Childhood Symptoms Scale (Barkley &
Murphy, 1998) outro instrumento foi utilizado para confirmar a inclusão dos
participantes nos grupos com e sem TDAH, o BAADS - Boatwright-Bracken Adult
Attention Deficit Disorder Scale (Boatwright, Bracken,Young, Morgan & Relyea,
1995). As tarefas utilizadas no experimento foram a tarefa da consoante-vogal/ímpar-
par (CV/OE Task) e a tarefa local-global (LG Task). Na tarefa CV/OE, os participantes
são apresentados a uma lista de combinações de letras e números (uma consoante ou
uma vogal e um número de dois dígitos, por exemplo, A50). Os participantes devem
indicar alternadamente se a letra é uma vogal ou uma consoante e se o número é par ou
ímpar, pressionando uma das duas teclas designadas para isso no teclado do
computador. Na tarefa LG, uma figura simples é apresentada (por exemplo, um
quadrado) sendo que suas linhas são formadas por outras formas menores (por exemplo,
triângulos). Os participantes alternam duas tarefas: 1- relatar o número de linhas da
figura menor e 2- relatar o número de linhas da figura maior, inserindo o número
(resposta) em um teclado numérico. As quatro tarefas utilizadas para treinar a
habilidade de atenção alternada foram adaptadas de tarefas de atenção alternada
utilizadas em estudos anteriores (como por exemplo, Rogers & Monsell, 1995, Spector
& Biederman, 1976). As quatro tarefas do grupo controle eram tarefas que não exigiam
habilidades de funções executivas e nem de atenção alternada. O experimento foi
realizado em duas sessões de uma hora cada, com intervalo de uma semana entre elas.
Os grupos foram divididos aleatoriamente. Todos os participantes foram informados
que estavam em um estudo sobre treino de atenção alternada, mas a nenhum foi dito a
qual grupo eles participavam. Na sessão 1 os participantes realizaram o pré-teste (linha
de base) e executaram três blocos de quatro tarefas cada (12 tarefas no total) de treino
de atenção alternada. Na sessão 2, realizaram outras 12 tarefas de treino e o pós-teste
(tarefa de transferência). A análise dos resultados revela o seguinte: 1- os índices da
presença de déficits de atenção alternada obtidos pelo grupo com TDAH são maiores
que os obtidos pelo grupo sem TDAH, indicando que esses déficits são maiores no
grupo com TDAH do que no grupo sem TDAH; 2- a habilidade de atenção alternada
pode ser aprimorada tanto no grupo com TDAH quanto no grupo sem TDAH e 3- os
resultados dos pré-testes e pós-testes das duas tarefas de transferência sugerem que a
melhora obtida na habilidade de atenção alternada pode ser transferida para o
desempenho de novas tarefas de atenção alternada.
Tabela I – Intervenções neuropsicológicas no tratamento do adolescente com TDAH: resumo dos dados dos artigos
sessões). 10 a 12 semanas recrutados do após a avaliação da linha
Escala de satisfação dos pais com a terapia; Escala de avaliação das expectativas dos pais em relação à terapia;
Testbatterie zur Aufmerksamkeitsprüfung, versão 1.7; WISC; HAWIK-III.
o Tratamento Multimodal combinado de graus
módulos de quatro tarefas combinado (n=16) e
controle realizaram tarefas que não utilizavam atenção alternada. Ao final todos os grupos realizaram duas novas tarefas que exigiam atenção alternada.
Tabela I – Intervenções neuropsicológicas no tratamento do adolescente com TDAH: resumo dos dados dos artigos (continuação)
Diminuição dos sintomas do TDAH; aprimoramento
nas funções executivas; melhoria nas funções
neuropsicológicas de inteligência fluída,
flexibilidade cognitiva e memória operacional. Não
foram observados efeitos significativos do
tratamento em funções de compreensão e resolução
desenhos - e estímulos auditivos – gravados em CD. As tarefas consistem em relacionar e classificar os estímulos como forma de treinar a atenção.
treinados por neurofeedback intencionalmente a atividade cortical e melhorar a
atenção e QI; ambos os grupos apresentaram
melhoras significativas no comportamento e nas
por meio de um notebook acoplado a um aparelho de EEG que media os resultados.
Todos os grupos do tratamento multimodal
apresentaram redução de sintomas após 14 meses de
tratamento. Os tratamentos medicamentosos
(individual ou combinado) apresentaram resultados
melhores que os tratamentos comportamentais ou
grupo controle. Os tratamentos por modificação do
comportamento e o grupo controle apresentaram
resultados estatisticamente equivalentes. Os
componentes necessários e eficientes no pacote de
tratamentos para adolescentes com TDAH; Terapias
Cognitivo -Comportamentais são mais efetivas no
tratamento de adolescentes do que no de crianças.
10 passos); treinamento de professores no manejo de comportamento na sala de aula; programas de verão; treino habilidades sociais; estimulação vestibular; treino por biofeedback, por EEG; relaxamento.
O experimento foi realizado Os déficits de atenção alternada são maiores em
jovens com TDAH do que em jovens sem TDAH.
A habilidade de atenção alternada foi aprimorada
tanto no grupo de TDAH quanto no grupo controle.
1: determinação de linha de O aprimoramento da habilidade de atenção alternada base e execução de 3
pode ser transferido, generalizado, para outras
blocos de 4 tarefas de treino tarefas novas. de atenção (12 tarefas) e Sessão 2: outras 12 tarefas e o pós-teste (tarefas de transferência).
A reabilitação neuropsicológica para adolescentes com TDAH não é uma prática
amplamente difundida, como o é a reabilitação de crianças com TDAH, o que pode ser
aferido pelo baixo número de artigos encontrados na literatura científica sobre estudos
com esse tipo de tratamento e essa faixa etária.
Ainda assim, pudemos encontrar em nossa pesquisa pelo menos três grupos de
atendimentos mais freqüentes utilizando tratamentos não-farmacológicos no manejo do
TDAH de adolescentes. Foram eles: treinos cognitivos, treinamento por neurofeedback
Os tratamentos realizados através do treino cognitivo focam, em geral, as
funções de atenção: sustentada, seletiva, alternada e/ou dividida. Essas funções se
encontram, em maior ou menor grau, prejudicadas nos indivíduos com TDAH. A
associação de medicamentos (em geral, psicoestimulantes) pode ocorrer nesse tipo de
As pesquisas que utilizam treinos de atenção acontecem, em geral, em três
etapas: 1- determinação da linha de base de cada participante, 2- aplicação do treino e 3-
avaliação de resultados. O que varia de estudo para estudo é o número de participantes,
os tipos de treino aplicados e os instrumentos de avaliação utilizados.
Já os experimentos envolvendo neurofeedback são mais elaborados e
complexos, dado o tipo de objetivo a que se propõem: ensinar os participantes a auto-
regularem suas ondas cerebrais. Utilizam aparelhos de eletroencefalograma na aferição
dos resultados. São experimentos que ao serem transpostos para a prática clínica de um
tratamento de TDAH, por exemplo, podem se mostrar pouco práticos. Exigem
aplicadores bem treinados e aparelhagem sofisticada disponível.
As intervenções psicossociais são as intervenções mais abrangentes das três
formas de manejo do TDAH citadas. Procuram atender não apenas os sintomas
cognitivos, como os déficits de atenção, por exemplo, mas também as outras defasagens
comumente encontradas em indivíduos com TDAH, especialmente as disfunções
comportamentais e consequentemente, sociais. E, se pensarmos na estrutura sócio-
psíquica de um adolescente, essas defasagens relacionadas ao relacionamento
interpessoal (social) dos indivíduos com TDAH tornam-se mais significativas, pois, em
geral, os adolescentes apresentam conflitos nessa área.
Ainda que mais estudos sejam necessários, especialmente estudos com
populações de culturas distintas das populações-alvo da maioria das pesquisas
encontradas (norte americana e européia), o tratamento de adolescentes com TDAH que
melhor apresenta resultados até o momento, é o tratamento que associa intervenções
psicossociais adequadas com o uso controlado de medicamentos específicos.
Os tratamentos para adolescentes não devem ser adaptações de tratamentos
voltados a crianças ou a adultos, mas sim, tratamentos que levem em conta as
especificidades biológicas, sociais e psíquicas dessa faixa etária.
REFERÊNCIAS 1-Arns, M., Ridder, S., Strehl, U., Breteler, M., & Coenen, A. (2009). Efficacy of neurofeedback treatment in ADHD: the effects on inattention, impulsivity and hyperactivity: a meta-analysis. Clinical EEG and Neuroscience Journal, 40(3), 180-189. 2-Antshel, K. M., & Barkley, R. (2008). Psychosocial interventions in attention deficit hyperactivity disorder. Child Adolescent Psychiatric Clinics of North America,17, 421-437. 3-Barkley, R. A. (2004). Adolescents with attention-deficit/hyperactivity disorder: an overview of empirically based treatments. Journal Psychiatric Practice, 10(1), 39-56. 4-Caballo, V. E., & Simón, M. A. (2007). Manual de psicologia clínica infantil e do adolescente. Transtornos Gerais. Santos Livraria Editora.
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Sports Science Exchange (2013) Vol. 26, No. 113, 1-4 SLEEP AND THE ELITE ATHLETE Shona L. Halson | Recovery Center | Australian Institute of Sport | Canberra | Australia Sleep is essential for athletes, both for preparing for, and recovering from, training and competition. Sleep disturbances in elite athletes can occur both during training and following competition. Sub-maximal, prolonged