quadernsanimacio.net nº 10; Julio de 2009 A Pedagogia além da Educação Formal Rafael Cavalcant Aline Schar Suzete Terezinha Orzechowsk
O presente texto, de cunho bibliográfico, objetiva identificar a educação em um
sentido mais amplo, aproximando-se da educação não-formal- Pedagogia Social. Justifica-se o interesse a partir do projeto de iniciação científica que apresentamos. Deste compartilhamos estudos de autores que se interpenetram. Sendo a Pedagogia considerada por alguns autores, a ciência que estuda a educação, nesse contexto interessa às nossas pesquisas pensar sobre a prática pedagógica além da educação formal, além da escola. Pois a Pedagogia também estuda os espaços não-escolares desde as últimas Diretrizes Curriculares Nacionais. O texto apresenta-se como uma aproximação para iniciar o debate sobre a educação além dos muros da escola. Palavras-chave: Educação, Cultura, Pedagogia Social 2)Educação e Cultura - uma aproximação para o debate na educação não-formal
Entende-se por cultura as relações entre experiências, nos âmbitos espirituais ou
materiais, que permitem novos aprendizados para melhorar nossa convivência em ambientes diferentes. Em cada pessoa, grupo social ou sociedade a cultura se constrói historicamente e socialmente, o que possibilita e facilita sua relação com outras culturas. Então pode-se entender a cultura como tudo que a sociedade produz e suas relações. Assim podemos identificar várias culturas existentes em diferentes contextos.
Onde a cultura altera-se em sua construção também pela midiatização, é natural
que a própria forma de educação também se faça alterada. E se a educação torna-se variável, também variável torna-se a formação de quem a tem como objeto de estudo. Todo esse processo multicultural traz para dentro dos processos educativos essa diversidade que não pode ser deixada de lado dentro de uma educação libertadora, pois como escreve Paulo Freire:
A questão da identidade cultural, de que fazem parte a dimensão individual e a de classe dos educandos cujo respeito é absolutamente fundamental na prática educativa progressista, é problema que não pode ser desprezado. (.) A solidariedade social e política de que precisamos para construir a sociedade menos feia e menos arestosa, em que podemos ser mais nós mesmos, tem na formação democrática uma prática de real importância. A aprendizagem da assunção do sujeito é incompatível com o treinamento pragmático ou com o elitismo autoritário dos que se pensam donos da verdade e do saber articulado. (FREIRE, 1996, p.42). Reconhecer que a educação é ideológica, e que a postura tomada diante do
processo educativo em qualquer espaço vai conduzir os educandos a ter uma criticidade à situação que se encontram ou conformarem-se totalmente, é crucial no sistema
1 Acadêmico do segundo ano do curso de Pedagogia da Unicentro e Voluntário da Iniciação Científica. 2 Acadêmica do segundo ano do curso de Pedagogia da Unicentro e Voluntária da Iniciação Científica. 3 Professora Mestre do curso de Pedagogia da Unicentro e Orientadora da Iniciação Científica. A Pedagogia além da Educação Formal copyleft: Cavalcante, Rafael; Scharan, Aline; Orzechowski, Suzete Terezinha quadernsanimacio.net nº 10; Julio de 2009
empobrecedor no qual nos encontramos. A ideologia massificadora ainda é muito utilizada no sistema atual, deixando de lado discussões políticas e omitindo informações. A Educação, vem se restringindo à informação transmitida pelas várias mídias e vem colocando como objetivo principal formar para o mercado de trabalho. “Estamos diante de um processo que, por uma parte, produz o empobrecimento acelerado da maior parte da população mundial e, por outro, gera a destruição da maior parte das culturas e, consequentemente da diversidade cultural.”(LANGON, 2003, p. 75).
Assim o sujeito e toda a coletividade é excluído do consumo e da cidadania
tornando-se inculto e, consecutivamente, não é integrante de nenhuma cultura. Quem sustenta todo esse engodo é um processo ideológico, que não se faz explícito, está nas entrelinhas de todo um contexto educativo para além dos muros escolares. O objetivo maior d e uma Pedagogia Capitalista é dominar e oprimir os que não tem condições econômicas e psicológicas para enfrentar as situações criadas por ela mesma. Segundo Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido uma característica básica desta ação antidialógica é a invasão cultural.
Desrespeitando as potencialidades do ser que as condiciona, a invasão cultural é a penetração que fazem os invasores no contexto cultural do invadidos, impondo a estes sua visão do mundo (.) indiscutivelmente alienante, realizada maciamente ou não, é sempre uma violência ao ser da cultura invadida. (.) A Invasão cultural tem uma dupla face. De um lado, é já dominação; de outro é tática de dominação. (FREIRE, 1996, p.173)
Assim podemos identificar que a educação, no geral, se move a partir da
intencionalidade de quem a produz. A educação em espaços não escolares, se faz necessária, no momento em que as várias intenções se chocam e disputam espaço no ambiente formal. Como maneira de oposição ao que vigora no sistema de ensino, desenvolve-se várias pedagogias em diversos espaços. Como a pedagogia empresarial, que tem como objetivo atender as demandas do mercado de trabalho, em conseqüência, reprodução do sistema capitalista. Cada espaço não escolar, que busca as teorias pedagógicas, tenta desenvolver suas próprias teorias, acreditando que somente o sistema formal não dará conta de todas as relações pedagógicas nos ambientes em que estão presentes. Buscam levar a pedagogia para hospitais, Ongs, movimentos sociais, empresas, na tentativa de complementar o processo de formação dos indivíduos, mas cada um com sua intencionalidade.
“Por isto tudo é que a sua generosidade, como salientamos, é falsa.”(Freire,1982,
p.49). É preciso enfrentar a discussão para não ser engolido por essa generosidade falsa, como bem lembra o autor. “A ação política junto aos oprimidos tem que ser, no fundo “ação cultural” para a liberdade, por isso mesmo, ação com eles.” (Freire, 1982, p.57). Portanto libertar o homem a partir de uma educação em outros espaços é libertar-se a si mesmo, como educador, dos engodos ideológicos. Há uma necessidade de conscientização para refletir sobre a educação não-formal. Só nesse contexto é que haverá libertação e uma educação de cunho emancipatório. É nesse contexto que aparece a Pedagogia social ou sócio-cultural, que necessita ser refletida para não promover a falácia e vivificar a educação compensatória.
A Pedagogia além da Educação Formal copyleft: Cavalcante, Rafael; Scharan, Aline; Orzechowski, Suzete Terezinha quadernsanimacio.net nº 10; Julio de 2009 3) A Pedagogia Social: um levantamento dos seus precurssores
Partindo desse contexto em que se encontra a educação, entendemos que ela esta
sujeita aos ideais capitalistas, isto porque estes exercem uma dominação, cultural, política e econômica sobre a classe operária. As transformações na sociedade advindas deste sistema capitalista, faz necessário pensar na educação além da escola. A Pedagogia Social surge em um contexto histórico, de mudanças significativas no modo de vida social. Apesar de quase ignorado na época, o pedagogo alemão Diesterweg foi o primeiro a utilizar o conceito de Pedagogia Social em 1850, na obra “Bibliografia para a Formação dos Mestres Alemães”. Observa-se que o termo Pedagogia Social já havia sido utilizado por Magwer em 1844, na "Pädagogische Revue", uma publicação alemã (MACHADO, 2008). Paul Natorp, foi o primeiro a publicar de forma sistematizada a Pedagogia Social no ano de 1898, esta obra intitula-se “Pedagogia Social-Teoria da educação e da vontade sobre a base da comunidade”. O autor defendia como um dos conceitos básicos, a comunidade, opondo-se ao individualismo. Para ele, o individualismo é a origem causadora de conflitos sócio-políticos. Procurou elaborar uma teoria sobre a educação social, concebendo a Pedagogia Social como saber prático e como saber teórico (MACHADO, 2008). A Pedagogia Social de Natorp busca formular as concepções da educação como formação do homem visando à comunidade humana, que para ele é através desta formação que “o homem se faz homem”.
Esse caráter social da educação, a preocupação com as pessoas que eram
marginalizadas pelo sistema vigente, pode ser claramente percebida também na Pedagogia do Amor ou Preventiva como é conhecida a pedagogia do padre João Bosco, que em Turim no século XIX dedicou-se a educação de pessoas marginalizadas pelo pós guerra. Turim naqueles tempos, possui-a inúmeros jovens pobres em busca de trabalho e muitos órfãos. Dom Bosco, como ficou conhecido elaborou a partir de sua intervenção educativa – a denominada presença afetiva e alegre, de cunho preventivo. Incluiu na educação cristã, a educação pelo trabalho, montando as primeiras “oficinas-escola”.
Quando pensamos no homem como o ser social, passamos entender que é
impossível não levar em consideração o modo de vida em que estes se encontram. As mazelas sociais a relação de exploração, aliena e evidenciam a desigualdade social. Entre 1° Guerra Mundial (1914-1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Célestin Freinet desenvolve em um cenário de profundas desigualdades sociais sua pedagogia popular com o objetivo de extinguir todos os resquícios de uma educação que somente alienava e proporcionava a continuidade à exploração e à desigualdade social, advindas do sistema capitalista. Para Freinet a educação das crianças, deveria conduzi-las para uma futura transformação social. (COSTA, 2006).
No Brasil, temos como referência o educador Paulo Freire, que de forma
singular caracteriza as limitações de se ter uma formação integral do ser humano, em um sistema contraditório, onde a educação é determinada por uma classe que massifica as suas idéias, e que destrói as possibilidades de uma vida realmente digna. Freire escreveu obras reconhecidas mundialmente, onde escreveu sobre aqueles, que denominou de oprimidos, excluídos da história. Seu objetivo era a conscientização, pois julgava ser o meio para lutar para modificar a realidade sobre a qual estavam
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condicionados. Na Pedagogia do Oprimido, Freire declara que, a educação deveria ser forjada com os oprimidos e para eles. (Schwendler, 2004).
Ao identificar esses precurssores da Pedagogia Social, identificamos também a
preocupação com a inclusão que já se estabelecia. Uma atenção aos marginalizados e aos desvalidos, abandonados pelo sistema que a passos largos se fez excludente. Porém é também importante observar como essas concepções vão sendo utilizadas pela mídia, pela cultura do “bom”, do “bem”, do “voluntário”, do “amigo da escola”, da “compensação”, e outros processos que escamoteiam ideológicamente o processo libertário.
4) Considerações Finais
O conflito sobre a prática pedagógica em outros espaços, fortalece a categoria da
contradição, necessária para a análise aqui pretendida. Importa atentar para que processo pedagógico se encaminha, o Pedagogo, ao abraçar a tal “aplicabilidade” da Pedagogia. Há uma possibilidade de se recair sobre um processo de “educação compensatória” e ainda desviar a função do Pedagogo para outros interesses e outros campos profissionais: assistência social, psicologia, administração de empresas, explorando funções profissionais que não são da Pedagogia. “Na nossa atividade somos frequentemente compelidos a conhecer para não pensar, adquirir e reproduzir para não criar, consumir, em lugar de realizar o trabalho de reflexão.” (GADOTTI, 2003, p.67).
Por tudo isso há preocupação com o trabalho pedagógico do Pedagogo em
outros espaços que carece de análise. A questão está posta e ainda divide as opiniões entre os Pedagogos que se dedicam à pesquisa. De um lado podemos destacar uma concepção tecnicista da educação quando se pretende uma aplicação da Pedagogia em outros espaços atendendo funções que não são pedagógicas. De outra ótica pode-se evidenciar estudos dentro de uma visão crítica, onde o Pedagogo tem uma função pedagógica, uma especificidade educativa na qual sustenta sua intervenção em quaisquer espaços sem perder seu foco que é a ação educativa, dentro de uma visão crítica.
A idéia subjacente é a de que a educação ocorre em vários espaços, nestes o
Pedagogo tem seu lugar de atuação desde que compreendida sua intervenção pedagógica, garantindo sua identidade profissional e seu fazer dentro da variedade de atividades voltadas para o processo educacional. Nestes o Pedagogo atua intencionalmente, analisando, discutindo, colaborando e efetivando uma educação instituída como campo próprio de problematização. Diante do qual o Pedagogo tem seu espaço de contribuição. Porém há necessidade de se ter o cuidado e uma atenção para a especificidade da prática pedagógica, sem perder-se nas entranhas produzidas pelo mercado de trabalho que determina interesses e intenções. 5)Referências bibliográficas FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa. 34ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 44ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005. GADOTTI, Moacir. Pensamento Pedagógico Brasileiro. São Paulo: Atica, 2003. A Pedagogia além da Educação Formal copyleft: Cavalcante, Rafael; Scharan, Aline; Orzechowski, Suzete Terezinha quadernsanimacio.net nº 10; Julio de 2009
LANGON, Maurício; SIDEKUM, Antônio. Org. In: Diversidade e pobreza cultural. Alteridade e Multiculturalismo. Injuí: Unijuí, 2003 p.73 – 90 Colégios Salesianos Dom Bosco de Piracicaba. Dom Bosco: Padre dos Jovens. Disponível em Acesso em 03 de julho de 2009 om Bosco e a pedagogia preventiva. Resumo. INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Disponível
Acesso em 03 de julho de 2009 SCHWENDLER, S. F. A pedagogia de Paulo Freire inserida no contexto dos movimentos sociais. 2004. Disponível em <http://www.paulofreire.ufpb.br/paulofreire/ Files/seminarios/mesa13-c.pdf> Acesso em 01 de julho de 2009 MACHADO, E. M. A pedagogia social: diálogos e fronteiras com a educação não- formal educação comunitária.
<http://www.am.unisal.br/pos/stricto-educacao/pdf/mesa_8_texto_evelcy.pdf> Acesso em 01 de julho de 2009 MUNAKATA, K. Serie Clásicos de la Educación. Nota de leitura. Revista Brasileira de História da Educação. n° 4. jul./dez. 2002 COSTA, M. C. C. A pedagogia de Célestin Freinet e a vida cotidiana como central na prática pedagógica. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n.23, p. 26 –31, set. 2006 COMO CITAR ESTE ARTÍCULO Cavalcante, Rafael; Scharan, Aline; Orzechowski, Suzete Terezinha;(2009); A Pedagogia além da Educação Formal.; en http:quadernsanimacio.net; nº 10; julio de 2009; ISNN 1698-40 A Pedagogia além da Educação Formal copyleft: Cavalcante, Rafael; Scharan, Aline; Orzechowski, Suzete Terezinha
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